Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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domingo, julho 27, 2003

As aventuras do menino quântico

Era uma vez um menino que jogava à bola sozinho. A certa altura a bola, num remate mais violento, entrou numa pequena gruta por detrás de uma moita. O menino olhou lá para dentro e decidiu entrar. Andou uns metros e saiu do outro lado da gruta. O aspecto parecia-lhe terrivelmente familiar. Deambulou uns minutos por ali à procura da sua bola. Afastou-se um pouco para dentro de uma pequena floresta numa encosta de uma colina. Lá de cima olhou para baixo, para o sítio de onde tinha saído. Um menino jogava à bola. Esfregou os olhos e voltou a olhar. Reparou que esse menino era ele. De repente o menino que jogava à bola lá em baixo entrou dentro da gruta. O menino na colina ficou perplexo. Era ele próprio a entrar na gruta uns minutos antes. Levantou-se e tentou perseguir o menino para ele não entrar na gruta. Ao começar a caminhar sente um toque nas costas.
- Olá - disse uma voz.
Voltando-se para trás reparou que era ele novamente.
- Mas... Mas... Tu? Sou eu! - exclamou o menino incrédulo.
- Pois és!
- Mas tenho que ir lá abaixo impedir-me de entrar novamente na gruta. - disse o menino sem sequer pensar ainda no que se estava a passar.
- Não vás. Não vale a pena. Ele não te vê. Já muitos fizeram isso.
- Muitos? Quem?
- Muitos "nós"... Anda que te mostro uma coisa.
O menino seguiu-se a si próprio pela floresta e foi dar a uma clareira onde algumas dezenas de meninos jogavam a bola.
- Mas... Sou eu? Sempre...
- Sim. Somos todos o mesmo. Saídos da gruta. Desde há décadas que vem acontecendo frequentemente. Com cada vez mais frequência. Ali mais à frente há uma comunidade onde moramos milhares. Todos eu. Todos tu. Todos nós.