Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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sexta-feira, agosto 22, 2003

O dadaísta com sentido de estética

Havia um dadaísta que tinha a mania das arrumações. E como falar é fácil, arranjou um grupo de incautos curiosos de correntes artísticas alternativas e fez um workshop. Um mês de duração a 550 euros por cabeça. Falou dos peixes macacos com algodão nas narinas, do pó em cima do piano da raínha e até no assassinato de patos anões em vias de extinção para colar no tecto de uma galeria de arte. Tudo emaranhado num conjunto de tretas ainda mais absurdas, apenas sendo excedido em ridículo pela regra número 1 do workshop: camisas por fora das calças e sem serem passadas a ferro.

Certo dia, o dadaísta burlão foi confrontado à saída do centro de artes por um grupo de skin-heads. Situação surreal. Taco aqui, taco ali, pontapé em cima, murro em baixo, dente que voa, sangue que cai no chão em pastas volumosas, e o dadaísta perdeu a consciência. Com a cara rearranjada de um modo cubista, foi a magnífica ciência da reconstrução maxilo-facial que, fazendo o possível, lhe deu um aspecto mais impressionista.

Deixou-se das artes e foi morar com a avó para uma quinta no interior. Dedicou-se à criação de gado e a única coisa que lhe sobrou foi o tique de passear uma galinha com uma coleira, aos domingos pela madrugada.