Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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quarta-feira, dezembro 10, 2003

O pupilo lacrimoso

Era uma vez Alcínio Plinoi Marques Tazem, aspirante a escritor. Sonhara ele pintar uma tela literaria acerca do mundo de uma família pobre. Ora ele, farto de literatura burguesa e desacatos com o pai (que confundiu como sendo "o apelo da esquerda"), decidiu mostrar ao seu mundo Sine Nobilitate o que era passar necessidades primárias em larga escala e em largo tempo. Ora o problema de Alcínio era nunca ter visto um pobre. Caramba, só os conhecia dos filmes e mesmo assim, havia policias de giro que vestiam Armani. Vai daí, foi à zona pobre, foi tentar descobir como vivia a mais paupérrima classe. Foi a um bairro social. Toda a gente o olhava... Ele entrava por ali na perspectiva de comentador, tipo BBC, mas lá mesmo. Ao fundo da estrada um puto cigano pontapeava violentamente um puto louro, que se arqueava no chão, tentando proteger a cara. Alcínio caminhou, agora mais rápido, e dirigiu-se ao exemplar mais simbolizante da degradação humana, corroída pela mais violenta pobreza. Pega nas mãos dum velho senhor e diz: "Sois tão pobres, Ó criaturas de Deus! Eu sou um vosso escravo, pobre como vós, aqui nesta esfera do tempo. Pobres dejectos humanos, ameaçaivos-vos também ciganos, presumo!". Feito isto, voltou ao seu carro e foi para casa tomar banho. Alugou um DVD e preferiu ver a Cidade de Deus em VHS.