Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
dubois@aeiou.pt

quarta-feira, novembro 26, 2003

Zero

Olá rapazinho que vieste do espaço. Sei que chegaste aqui ao nosso planeta com um sorriso nos lábios. Sei que vieste em paz e que trouxeste oferendas de união. Sei também o quanto ficaram surpreendidos os teus conterrâneos por terem descoberto que não estavam sozinhos no Universo. Esse grande pedaço de nada habitado por neutrinos e onde nem a luz pode ter uma vida descansada. Infelizmente, os nossos líderes não quiseram esperar por ti, bravo rapaz das estrelas. Nossos líderes só tinham vista para os míseros pedaços de matéria que ocupavam. Um quark de um átomo de uma molécula de um grão de areia no universo. Mas isto é só a nossa galáxia. Vista de tua casa, viajante estelar, a nossa extinção seria olhada com tanta indiferença como nós vimos extinguir uma supernova. Por isso nestes poucos minutos que me restam, te deixo esta mensagem. Junto a ela uma foto da minha terra natal, último sítio onde vi a cor verde na sua forma natural. Tenho pena que vejas apenas o pedaço queimado de carbono e não a embriagante gama de tons espectrais que outrora teve.