Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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quarta-feira, janeiro 14, 2004

O Yuppie da semana

Alfredo era intelectual. Óculos de massa e tudo! Alfredo lia e gostava de comentar as suas brilhantes conclusões literárias com os amigos. Com medo da concorrência, nunca se metia com outros intelectuais da pesada, porque Alfredo apesar de conhecedor, era moço de poucos conflitos. Alfredo gostava de poesia. Daquela bonita, em que não é preciso compreender, mas apenas perceber que cada um tira as suas conclusões. Pelo sim, pelo não, lá lia uma crítica no jornal da especialidade.... Era rapaz precavido! Alfredo era sensível e tolerante. Era capaz de chorar, mas no local certo, porque ninguém gosta de ser chingado de paneleiro. Alfredo era multicultural e solidário. Alfredo ouvia World Music, comprava discos da Ananana e achava os La Fura del Baus muito comerciais. Alfredo falava francês e tocava piano (duas músicas, de ouvido).

Um dia, ao fazer um zapping pela nova 2:, viu uma publicidade institucional de uma campanha de solidariedade para um país de África. Um dos que fala português. "Dê tudo o que não precise", dizia a senhora da doce voz off. Alfredo tinha lido sobre isso no Público no dia anterior. Invadido pela comoção, decidiu doar um item que adorava, mas não mais usava. No dia seguinte enviou pelo correio para aquele apartado qualquer coisa codex a sua obsoleta objectiva AF 28-200mm F3,5-5,6 Compact Hyperzoom Aspherique Macro para Minolta.