O Poeta Technicolor
Desce o poeta ao rio. Vem à foz neste solstício final. Caminhando na margem encontra uma árvore de fruto de fresco aspecto. Pousa delicadamente o cajado, limpa o suor da cara e senta-se junto ao caule. Vai abrindo os olhos. O excesso de luminosidade quase cega de início mas o poeta força a sua absorção. Deixa penetrar o excesso de cores e finalmente nota que a paleta se completou. "Tantas cores, nunca pensei!", pensou. "Realmente 32 bits não são cor real!". "Nem com correcção gama nem com sofisticados overlay". Não havia pixeis e finalmente o poeta se apercebeu que um pixel afinal não é um mito. Existe!
O som enibriante surgia de todas as direcções como um suave molho apimentado de frutas. Era global, total e omnipresente. Os espaço tinha novas coordenadas e o infinito é fractal.
O poeta finalmente compreendeu o que sempre temera: a palavra é acessório. A palavra é um reles substituto de sensações e sentidos. A palavra é um simulacro. A palavra é um technicolor de um filme sem imagens. É composta e complexa. Estruturalmente artificial. Um lamento de tempos idos. Uma recusa de enfrentar o facto de que já nada há. Que é a fase de "educar novas gerações que nunca viram TV a preto e branco ou nunca ouviram os deliciosos riscos do vinil".
O poeta deita fora o seu pão quase bolorento e duro como pedra. O poeta atira a sua coca-cola ao rio. Volta para trás... Outra vez...
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home