Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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sexta-feira, agosto 08, 2003

Acidentes heurísticos

Alienado por mais duas horas de entorpecimento mental, voltou ao local de onde tinha saído naquela manhã. "Ó meu Deus!", pensou. "Outra vez aqui!". Na manhã seguinte acordou, levantou-se, abriu a porta do quarto, dirigiu-se ao corredor, acendeu as luzes da casa de banho e entrou. Abriu finalmente os olhos e mirou-se no espelho. "Outra vez esta imagem". Fez uma cópia do acto normalizado de barbear, tomou banho, sempre com a sequência de movimentos repetida. Pensou "estou novamente atrasado". Na realidade, era uma repetição de outros atrasos, pois nunca tinha sido pontual. Saiu de casa apressadamente, quase atropelando um gatinho que ali estava todos os dias, sempre prestes a ser atropelado. Ele, o gatinho, mais do que qualquer ser racional, estava perfeitamente sincronizado com o ritmo do seu nicho ambiental. Aquilo que poderia parecer uma previsão do futuro, era na realidade uma repetição do passado. Desbotada de tanto uso. Como um espelho frente a outro espelho, apontada ao infinito, vinda do início dos tempos. Tempos esses que são padrões. Padrões modulares, encaixados como Legos sem cor. Apenas uma imagem lhe vinha à cabeça enquanto conduzia. Um TV em fim de emissão enquadrada numa foto de tons sépia. Electricidade estática em 3D...