Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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quinta-feira, setembro 25, 2003

Fundamentalismo religioso
Verdades absolutas ou hipnotismo?

Tive uma educação católica com catequese e tudo. Na altura foram-me ditas coisas que eu tomei por verdade e que temi durante anos. Coisas que horrorizavam as crianças para as tornar ordeiras e servis. Não resultou. Provavelmente teve o efeito inverso. Vou aqui publicar no castor algumas dessas barbaridades...

- Era pequeno e na missa não conseguia tocar com os pés no chão quando estava sentado. Assim, balançava as pernas para me ir entretendo naqueles momentos de tédio absoluto. Uma senhora devota que tinha um contrato de exclusividade com a fé disse-me então um dia:"Se abanares as perninhas na missa, Nosso Senhor corta-te ambas as pernas acima do joelho". Eu, criança, menos de 6 anos, nunca contei a isto ninguém e na missa, durante uns tempos, tinha pavor de me mexer e mesmo quando num movimento involuntário as minhas pernas se mexiam ligeiramente, andava em pânico durante alguns dias. Chegava a acordar e verificar se ainda as tinha.

- Um coveiro disse-me que se tocasse nas plantas do cemitério, morria no dia seguinte. Aí perguntei a um familiar que se dispôs a tratar do assunto pessoalmente com o senhor.

- Apanhei umas chapadas por arrancar umas folhas de uma sebe junto à igreja. Perante a ameaça de tribunal, a senhora pediu-me desculpas.

- Uma catequista disse-me que beijar (na boca ou em qualquer lado) era pecado mortal. Havia uma excepção: os pais. A catequista era virgem e tinha quase 60 anos. Só na puberdade percebi esta frustação da senhora.

- Fui expulso de uma associação religiosa por usar uma t-shirt "obscena". Quando fui apresentado ao prior para ser apresentada queixa formal da minha leviandade, fui barbaramente repreendido por fazer questões. Devia ter-me calado, baixado a cabeça e acatado.

- Os protestantes, testemunhas de Jeová e outras credos eram-me descritos como monstros sanguinários e que mereciam todo o meu desprezo por se terem afastado para o caminho do demónio. Havia uma família minha vizinha que era completamente ignorada por toda a comunidade por ser protestante. Havia pessoas que rezavam para que o inferno para onde iriam ser enviados não fosse muito mais quente que os 300º C normais para pequenos delitos. Mais tarde convivi com eles e percebi o errado da questão. Pessoas exemplares, de sólidos principios morais, justos e tolerantes. Não comecei a arder quando, por curiosidade, visitei a sua igreja.

...e podia continuar, mas acho que a título de exemplo e testemunho pessoal serve.