Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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segunda-feira, outubro 13, 2003

Flashback [1] (autobiografia, capítulo 36, parágrafo 12)
Março de 1986

Ao acordar nesse dia não suponha que uma tramóia havia sido montada contra mim. Denegrir a minha imagem era o seu objectivo. Ainda eu escovava o cabelo que teimava em fazer crescer (e a minha mãe teimava em mandar cortar), já um representante da paróquia estava a falar com a minha mãe. Fui até ao fundo do corredor e ouvi a conversa do cimo das escadas, escondido no escuro a observar a cena pelo espelho rocócó.

- Só pode ter sido ele. - dizia a senhora irritada.
- Mas o meu filho esteve em casa toda a noite! - reagia a minha mãe indignada.
- Desculpe, mas não há mais ninguém que o possa ter feito.

Uma caveira com os escritos "Iron Maiden" tinha sido pintada na porta de uma igreja perto de minha casa. Pintada a lápis de cera. Uma vingança fria e calculada por eu ter colocado um disco de Judas Priest aquando de uma procissão em honra de... não sei bem... Desde que me tinha recusado a matricular na disciplina opcional de Religião e Moral, o padre tinha deixado de me falar. Tinha os tipos da Legião de Maria à perna, com sangue na boca e a gritar por vingança. Este plano tinha resultado em pleno e a minha imagem tinha caído por terra. No entanto, era preciso alguém para continuar a sintonizar e instalar video-gravadores e regular equalizadores das imensas aparelhagens Pioneer que se compravam na altura, pelo que nunca perdi o respeito do pessoal mais novo.