Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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segunda-feira, abril 19, 2004

À sombra de um deus de luz
Pesadelo para ler a preto e branco

Perez, um jovem guatemalteco com 15 anos, voltava a casa ao final do dia com as cabras de seu pai. Ao passar ao lado de uma plantação de café, dirigiu-se a um dos seguranças. Pediu mais uma vez para ver a sua arma. Era uma daquelas que queria para o aniversário dos 18 anos. Voltou ao seu caminho. Afinal ainda faltavam uns quilómetros a percorrer, apesar de já se verem os subúrbios de Mazatenango ao fundo. Daquele ponto da montanha quase que podia ver o mar, pensava. De repente as cabras entram em alvoroço. Olhou para o horizonte onde pode ver um enorme cogumelo disforme, muito além da zona urbana. Beijava o céu e afastava as nuvens. Passados uns segundos, ouve uma enorme som seco que o ensurdeceu. A base do cogumelo alastrava a uma velocidade vertiginosa. Podia ver que aquele circulo de fogo brevemente o ia apanhar. Podia ver claramente que o circulo era cinzento, com algum focos alaranjados a crepitar, e o seu perímetro era vermelho fogo, de todas as árvores que ia dizimando selvaticamente. Pode perceber que tinha pouco tempo de vida e não pode deixar de pensar na sua Cristina que certamente já jazia calcinada num túmulo de cinza. O último pensamento antes de ser abraçado pela infernal orla cavalgante foi o noticiário que ouvira na rádio minutos antes e como a concorrente guatemalteca teria fortes possibilidades de ser Miss Universo este ano.