Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
dubois@aeiou.pt

terça-feira, março 16, 2004

Pensamentos de elevador
Soneto 27

Em pânico, ao ver toda a gente e gritar, gritei. Depois, olhei para mim, e reparei que era como uma beata alarmista. Daquelas que nos dizem que antigamente chovia mais, os campos enchiam e prosperava a agricultura, no entanto, dizem sempre também que nunca esteve calor como agora. Dizem que agora não se pode confiar no tempo porque já não há estações do ano definidas. Daqueles que pedem uma resposta standartizada, do género: "Olhe senhora, há uns milhares de anos atrás, esta merda estava coberta com 50 metros de gelo. E não era por ser inverno. Era sempre assim... Mais 5 menos 5 em volta dos 89 graus negativos". E que ela que se despache a aproveitar o sol, porque daqui a uns tempos volta a neve de 50 metros outra vez. E não é bombas e guerras. É mesmo ciclo natural do planeta. Arqueólogos do futuro longinquo não distinguirão Misseis Nucleares Intercontinentais de espingardas de rolhas. Como para nós, uma seta de pedra afiada e uma lança de bronze são a mesma coisa. Ou como vistos do limite do sistema solar, somos apenas um pequeno ponto invisível emissor de ondas rádio. E podia continuar numa perspectiva fractal de dentro para fora. O típico episódio um de qualquer documentário da BBC.
Há um gajo qualquer que diz que o universo tem 9 dimensões e o ser humano tem apenas compreensão para 5 dimensões e não é para já. E pergunta-me a estimada audiência "Mas como é que ele sabe?". Não sabe, queridos leitores, mas vende imensos livros e leva toda a gente a imaginar universos de 9 dimensões e a sentir-se inteligente. Na realidade são apenas modelos de 3 dimensões, mas grandes. Dá uma boa conversa de café. Mas, infelizmente, só na Dinamarca ou Nova Zelândia.

In order to make an apple pie from scratch, you must first create the universe.
- Carl Sagan