Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
dubois@aeiou.pt

quarta-feira, outubro 15, 2003

O velho e o farol

Estava um velho muito velho sentado em frente do velho farol. Num banco de pedra, velho, com a forma da erosão natural provocada por milhões de horas que o velho, e outros velhos, ali haviam passado a olhar o mar. Quando jovens marinheiros chegavam das suas viagens pelo mundo, o velho corria ao seu encontro. Desejoso de falar que em tempos também o velho teria sido novo e também em tempos fez as suas viagens. Os jovens não o ouviam e riam sempre na sua cara. Por ele expressavam escárnio de quem olha para uma animal engraçado. Ter o velho a falar ou um macaco acrobata surtia o mesmo efeito nos jovens marinheiros. O velho não percebia e pensava que se tratava de respeito. E contava as suas histórias. As mesmas histórias de sempre. Um misto de realidade e imaginação que há muito teria sido absorvida como realidade pelo seu cansado cérebro.

Ao final da tarde, ao chegar a casa contava histórias do dia à sua esposa que morrera há três anos atrás. Nunca perdeu o hábito, e o convívio de 53 anos de casamento permitiu que pudesse conversar com ela, mesmo não estando presente. O velho dormia e sonhava com o próximo dia no farol...