A nova burguesia
Na rua as manifestações avançam. O povo pede direitos básicos que foram prometidos, mas nunca foram efectivamente cedidos. O direito a garagem para dois carros, um quarto de visitas e escritório. Mais caixotes para meter os livros, enquanto enche as prateleiras de bibelots (ou lá o que é) e prendas da sogra. Mais um restaurante italiano no bairro, para atingir as médias comunitárias. Mais um crédito inacreditável e compra-se menos um Pokemon por mês ao puto. Um hiper mais perto, afinal 500 metros ainda são caminho. Mais baleias do ártico salvas e mais desconto nos sofás de pele. Mais daquelas cortinas para banheira, com novos padrões serenos...
Entretanto a multidão pára, em silêncio. Um reporter corre, tenta libertar-se dos cabos a caminhos dos primeiros manifestantes.
Cameramen: Estamos em directo.
Reporter: Senhora, porque pararam? Porque parou a manifestação?
Senhora: Então... Não sabe? Não acredito!...
Reporter: Não, não sei... Porque pararam?
Senhora: Porque nao podemos continuar. Estamos à espera de uma pessoa.
Reporter: Estão à espera de quem?
Senhora: Ora, estamos à espera de Godot.
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