Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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sexta-feira, julho 09, 2004

A tempestade prodigiosa
[loop-back] Pureza foto-voltaica e a satisfação num espasmo

Arrastava-se por entre extensas fileiras de jazigos, procurando não encontrar. Fitava o ponto intermédio, o ponto da ausência absoluta. Até ao infinito se alongavam aqueles carreiros branco-sujo, ensopados parasitas ácidos, corroendo a pedra e a carne. Do céu chovia deus, um deus negro e novo. Uma repulsa, uma malquerença, um dedo esmagou a mesquinha existência humana. Prostou-se de joelhos olhando o sombrio promontório, onde as sepulturas se uniam ao infinito do firmamento. Árvores mortas, funestas testemunhas silenciosas. Nos seus ramos ressequidos e abrasados apenas sobravam os corvos. De olhar ardente e semblantes de raiva, a cara do deus punidor. Não esperavam mais morte, porque mesmo o mal se sacia e a pústula da humanidade haveria de ressurgir para novamente lhe saciar o desejo sófrego de carne morta...

...e do negro se fez espírito, e a mágoa vindimou a opulência e do esplendor se fez sobriedade. Afinal era novamente vida primordial. A oferenda dos deuses.