Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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segunda-feira, junho 21, 2004

Autobiografias aos pedaços - Bocados de nada, vol. 15
Entrada do novo século - o mesmo de sempre

Depois de entrar no carro, sem uma palavra, sem um gesto, tudo estava terminado. Olhares e electromagnetismo manhoso armado em telepatia tinham passado a mensagem. "E agora?" Pensou... Bem, agora é aguentar 3 ou 4 horas de um silêncio violentíssimo e esperar que tudo acabe com dignidade. Todas as frases poupadas e abandonadas no vazio de mentes hiperactivas provocaram um extâse, um mundo de fantasia "E se...?", criando realidades paralelas, desejando estar lá, já! Nem um único olhar se cruzou. As mãos quase encostadas libertavam suores árticos. Era repugna civilizada, um "Vai-te foder" disfarçado de "Faço de conta que nem aqui estás".

A certa altura dei comigo a encaixar este falhanço emocional na minha lista de falhanços emocionais, prevendo com extrema precisão os acontecimentos futuros, as emoções, as fases, toda a merda sentimental do costume. Ao fim da segunda hora ansiava por viagem em criogénio, mas quando cheguei ao destino facilmente a trocaria por uma daquelas frescas que saiam do bar da praça... Era afinal, outra vez, nada...

- Como dividimos CDs? - perguntou
- Fica com eles que fiz cópias - respondi impaciente