Um pâncreas em Dusseldorf
Era tarde quando o telefone tocou. O cheiro a terra molhada da miúda chuva de Verão entrava pela velha janela. As paredes descascadas assombravam a casa vazia. O telefone jazia ali no meio da sala, reanimado abruptamente pelo energética vontade de distribuir notícias frescas. Do outro lado um voz ofegante tentava recuperar o fôlego. Ela havia sido atingida por um pâncreas no centro de Dusseldorf. Ainda pingava sangue. Uma equipa de psicólogos tentava ajudar. Em pânico tentou explicar-me que não sabia o que tinha acontecido, ou como tudo estava a ser demasiado surreal.
Disse-me que teve uma crise de pânica e gritou "Pâncreas" em plenos pulmões. Apareceu um polícia e só conseguia dizer "Pâncreas". Essa foi a única palavra que disse até à esquadra.
Meio adormecido tentei falar em vão. Procurei uma acalmia para meter uma frase que me foi recursivamente negada. Continuou a gritar, enquanto atrás e ouviam vozes semelhantes àqueles filmes da 2ª guerra mundial onde os generais nazis falam todos inglês. Esperei pelo final da cacofonia. Não precisava de me ouvir. Precisava de falar. Desligou.
Peguei no telemovel e mandei-lhe um SMS. "Como raio soubeste tu identificar um pâncreas?"
2 Comments:
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