Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
dubois@aeiou.pt

quarta-feira, junho 04, 2003

A pedofilia selectiva

Enquanto almoçava numa qualquer tasca aqui perto, ouvi uma notícia na TVI acerca de um caso de pedofilia algures no norte-interior onde as pessoas falam estranho. Tipicamente TVI, os elementos que equipa de reportagem escolheram meia dúzia de velhos com poucos dentes e em pós produção eliminaram todas as intervenções de pessoas que sabiam dizer uma frase completa. Depois foi o título pré-definido (tirado de um caderninho existente na redacção) e preencher os espaços em branco. Qualquer coisa como "Pedófilo de 23 anos violou continuamente menina de 13 em actos de brutalidade indescritível".

O que me levou a pensar este caso? Bem, numa primeira análise achei que o sobre-uso da palavra Pedofilia já não choca ninguém. Depois pensei que há diferenças na maneira como se aborda o mesmo crime (e repito MESMO) para pobres cidadãos anónimos e para figuras públicas.

Notícia para um caso de anónimo cidadão que anda a comer criancinhas (vulgo pedófilo de aldeia):
"Jovem de 23 anos abusou sexualmente de uma criança de 13. Abusar sexualmente significa violar.
Segundo testemunhas credíveis o jovem tinha comportamentos estranhos e desviantes, tais como andar de motorizada ou ter uma pêra no queixo. De seguida vamos fornecer uma foto e a morada deste terrível marginal e o número de telefone para poder inscrever-se na viagem de autocarro ao linchamento público. Oferecemos 7 pedras e um pau de marmeleiro na compra de mais do que um bilhete.
A pobre menina indefesa está no hospital e merece que se lhe leve a cabeça do animal embrulhada em papel celofano."


Notícia de uma caso de pedófilia de uma figura pública
"O senhor X foi chamado a depor no DIAP onde poderá ser alegadamente constituído arguido de um caso de hipotético abuso sexual. O advogado de defesa, ao saír do Bentley, afirmou que o método de aquisição de provas era ilegal e que o seu cliente nem sequer tem tesão e como tal pretende apresentar um atestado que o possa ilibar.
O Partido Y já apresentou uma proposta de modificação de lei onde pretende ajustar cirurgicamente todos estes casos e de maneira a que não os chateiem mais por andar aí a enrabar os meninos do Parque Eduardo VII."


E neste segundo caso, nem sequer são mencionadas as vítimas verdadeiras