Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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quarta-feira, junho 02, 2004

De alma dormente
O Alpha e o Omega (e outras marcas de relógios)

- Sabes qual a sensação de te odiares a ti próprio?
- Sim, sei! -
respondeu ele sorridente.

Nunca ele poderia responder que não. O facto de alguém se sentir satisfeito consigo próprio é sinónimo de sono profundo. É sinal de fim de linha. Significaria que agora tinha encontrado a plenitude, essa utopia romancesca. Significaria que tinha encontrado a equilibrio perfeito de café/leite/chocolate para um capuccino divinal, um automóvel que realmente prolongava o seu pénis, digitália perfeita para o som 6.1 e visão cristalina nos seus filmes merdosos, um penteado para o resto da vida, o perfume dos deuses, um método perfeito de organizar a biblio(disco/dvd)-teca, a marca de roupa que transborda maturidade a rodos ou o grupo de convicência social onde podia dar largas a toda a sua superficialidade.

Se respondesse sim, ignoraria por completo que a perfeição e plenitude são na realidade uma amálgama de pequenos nadas, que removido todo o ar, não preenche sequer o espaço entre dois protões do mesmo núcleo.