O ermita moribundo e seu rebanho mutante
Ao final da tarde, o velho desconfiado saía da sua toca e espreitava mais um glorioso pôr do sol. Gostava de ver os raios solares a perfurar a densa atmosfera na diagonal. Adorava aquela dolorosa peregrinação de fotões inquietos, armados de capacete, ao estilo de espermatozoides sem destino. Os James Dean dos fotões. O velho ali ficava sentado a imaginar conversas com aqueles viajantes que, iguais aos outros, eram do tipo de proletariado que trabalha no duro. Ali, gás após gás, chuva de radiações adentro, enganadores de gravidade e infinitos saltitantes. O bunje jumping quântico. Não faz perguntas, mas também não precisa de respostas. Ser e apenas ser, nada de esoterismos nem infindáveis epopeias científicas. Ali era apenas matéria voadora, rápida. Honrada e cumpridora da sua função. O velho sorria com o que os seus velozes companheiros lhe contavam. Depois de passar o dia a imaginar nomes para lhes dar, perdia-se com a velocidade e baralhava-os todos. "É que a beleza do fotão...", dizia, "... é ser tão omnipotentemente visível que ninguém os vê!".
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