Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
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segunda-feira, outubro 04, 2004

A alma do mundo
Carcere espelhada forrada a finas sedas

Numa sociedade próspera, algures num futuro victoriano, presente para alguns, existe um povo invisível. Abaixo do nível dos olhos, oculto, onde ninguém nunca procura. Deitados, esfarrapados, sujos, feios, desdentados, de mão esticada e unhas encardidas. Estátuas de pano velho, prostadas em poses de escultura romana, sobre estruturas de carne deformada. A azáfama das infantarias orientais abafa os gritos, duas oitavas abaixo, imperceptível ao novo humano, ao info-humano. Dois plebeus discutem assuntos mundanos, cheirando o vento. O povo invisível estica os braços, atravessando um imensidão de réstias humanas, não bio-degradáveis:
Uma vitória da estatística, a nova raínha da corte. O conceito do tempo real assíncrono.

- Viste aquilo?
- Não.