Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
dubois@aeiou.pt

domingo, agosto 31, 2003

Fedex Sideral

5:46 AM. Desta vez olho para o maço de cigarros, incrédulo. Bolas, só mais um! Saio novamente de casa, entro no carro e coloco aleatoriamente um CD. Logo hoje, logo hoje que as nuvens decidiram vir acariciar a cidade com a sua suave carga. Fedex sideral.. Freddie Freeloader de Miles Davis consegue a proeza rara de não ser interrompido com um next do leitor de CDs. Abençoadas as bombas de gasolina "aberto 24 horas". Um isqueiro também! - digo! Cor?... Pausa de 2 segundos. Sei lá, um qualquer! Sorriso maquiavélico do outro lado do balcão. Pode ser este cor-de-rosa?... Pausa de 1 segundo. Foda-se, dê-me um preto. Backtracking até casa... Uma cidade a preto-e-branco, feita de encomenda!

sexta-feira, agosto 29, 2003

Desinformação

Longe vão os tempos em que se conseguia diferenciar um jornalista de um dramaturgo.

Dimensão muda

A minha experiência com universos paralelos:
Hoje de manhã olhei para o espelho e fiz uma pergunta. Ninguém respondeu!...

quarta-feira, agosto 27, 2003

Uma visão não manipulada do mundo
(...)
adoro o cheiro a Napalm pela manhã
(...)


...Soldado norte-americano e civis iraquianos mortos na explosãode minas..., ...Pelo menos 31 mortos em festival religioso na Índia..., ...Ministro da Defesa Geoff Hoon depõe sobre morte de David Kelly..., ...Dois polícias iraquianos morrem em tiroteio no centro de Bagdad..., ...Ministro do Daguestão morto num atentado à bomba..., ...Preso há 17 anos por acusações de violação libertado após testes ADN..., ...Israel vai prosseguir "operações de liquidação" contra o Hamas..., ...macaco mantém relação amorosa com caniche...

Obviamente que esta amostra está manipulada, pois encontram-se aqui apenas 80% dos títulos de notícias dos matutinos

terça-feira, agosto 26, 2003

Contos da vizinhança

- Querido, não achas estranho aquilo da vizinha?
- O quê?
- Aquele homem que de vez em quando entra com um pónei lá em casa!
- Ahhh, isso! Não, nem por isso... Esses vizinhos são chanfrados.
- Ok. Pois, mas o que me mete impressão é como é que ele consegue meter o pobre bichino no elevador.

Blogman Reborn - Morrei com dignidade

Todos aqueles que têm algum contacto com a banda desenhada (ou vejam frequentemente o telejornal), sabem que a melhor técnica para aumentar a tiragem da revista de um super-herói é fazer com que este morra. Aconteceu, por exemplo, com o Super-Homem e com o Batman. Esse último exemplar vende milhões, torna-se peça de colecção. Mas o bonito da questão é a edição do volume em que o super-herói renasce. Até os telejornais o anunciam aos quatro ventos. Os estrategas do marketing encarregam-se assim de disfarçar a falta de criatividade dos autores e o baixo número de exemplares vendidos.

Ora, toda esta conversa por causa dos blogs que morrem e depois renascem. Amigos, morrei com dignidade. Por vezes esse complexo de infância mal resolvido causa-me uma certa irritação. Tenho dito! O nonsense e o metafísico volta dentro de momentos...

segunda-feira, agosto 25, 2003

Entomologia

Vistos de cima, somos um exército de formigas a comentar uma pequena erosão nas escadas nas traseiras do Taj Mahal!

Chaos sem agá!...

Flores murchas, putrefactas e queimadas pelo sol. Leite derramado, com pedaços de negro. Sol avermelhado, com sangue a respingar. Vinho sobre os corpos pegajosos. Uma luz pálida que entra envergonhada pela janela, de noite. Luz que dá contornos lunares aos corpos nus. Luz que empalidece as caras e que torna os sentimentos crus. O lunar acompanhados por musica de camara. Sombrio e belo. Os poucos humanos que se guiam no escuro. Juntos na sua solidão. O cliché ocasional. O acto de nascimento a ser revertido. Dois cães malhados de louça olham com atenção.

Dois sóis, uma lua. A convivència dos astros todos visíveis simultaneamente. Um lunático que me pisca o olho, um psicopata que me ameaça, uma faca na garganta. Um salto para o escuro, através de um espelho inverso. Duplicada realidade. Um mundo em tons de azul gasto. Pedaços de realidade num monte, com contornos indecifráveis.Enfim, todas as coisas que nos fazem viver e sentir o fluir do éter
.
Um ponto fora do sítio, um erro hortográfico, um link que nao existe... A falha que demonstra a minha humanidade. Egocentrismo num saco de pano. Não é possível apresentar a página. Antigo e gasto. De apertar com corda.

O simultâneo. O alpha e o omega. Um relógio de pulso com quatro ponteiros. Doze barcos iludidos por um falso farol.

Um conjunto de pessoas a falar de ideias de grupo. A estupidificação individual. Uma infinidade de escolhas que os aprisionados ignoram. Os conteúdos que me são trazidos numa bandeja.

Nada.

domingo, agosto 24, 2003

Lux Æterna

Quando a motivação e optimismo tem um poder de evolução superior aos infortúnios da vida, a felicidade é eterna.

sexta-feira, agosto 22, 2003

O dadaísta com sentido de estética

Havia um dadaísta que tinha a mania das arrumações. E como falar é fácil, arranjou um grupo de incautos curiosos de correntes artísticas alternativas e fez um workshop. Um mês de duração a 550 euros por cabeça. Falou dos peixes macacos com algodão nas narinas, do pó em cima do piano da raínha e até no assassinato de patos anões em vias de extinção para colar no tecto de uma galeria de arte. Tudo emaranhado num conjunto de tretas ainda mais absurdas, apenas sendo excedido em ridículo pela regra número 1 do workshop: camisas por fora das calças e sem serem passadas a ferro.

Certo dia, o dadaísta burlão foi confrontado à saída do centro de artes por um grupo de skin-heads. Situação surreal. Taco aqui, taco ali, pontapé em cima, murro em baixo, dente que voa, sangue que cai no chão em pastas volumosas, e o dadaísta perdeu a consciência. Com a cara rearranjada de um modo cubista, foi a magnífica ciência da reconstrução maxilo-facial que, fazendo o possível, lhe deu um aspecto mais impressionista.

Deixou-se das artes e foi morar com a avó para uma quinta no interior. Dedicou-se à criação de gado e a única coisa que lhe sobrou foi o tique de passear uma galinha com uma coleira, aos domingos pela madrugada.

quinta-feira, agosto 21, 2003

A traição de Paredes de Coura

Pela primeira vez em 5 anos falhei Paredes de Coura. Porquê? Bem, ausência de férias e uma ideia infeliz de colocar o festival à semana. Não vou poder ser um hippie por 3 dias! Mas isso também não interessa muito, porque desde que toda a gente me começou a tratar por você, começou a parecer um bocado ridículo. Mas este prólogo é apenas palha, porque o que eu queria dizer é que, na Sic Radical, está a dar o concerto dos Mew.

O conflito israelo - palestiniano numa perspectiva trigonométrica

Numa perspectiva temporal-linear, foram já dados quase 180º nos últimos 60 anos. A evolução dos acontecimentos (ângulo) é imperceptivel com o passar dos anos (3 graus ano), mas as consequências (tangente e cotangente, dependendo do ângulo de aproximação à direita ideológica) são exponenciais. Neste momento a diferença entre os lados anda na ordem de: tangente = valor muito próximo de zero e cotangente = valor a tender para o infinito. Do lado da tangente o pico mede-se em tolerância, do lado da cotangente, o pico mede-se em ódio. Uma operação matemática/sociológica chamada a Equação de Asmodeus...

Um brado aos historiadores

Como se chamará no futuro (se o houver) a este período da História de vai desde a queda da União Soviética até à guerra nuclear?

quarta-feira, agosto 20, 2003

Angústia latente (Sindrome do Vizinho Irritante)

É de todos sabido e compreendido que o excesso de estímulos exteriores estupidifica. Como uma criança amuada, também o ser humano ocidental (modernizado, domesticado e sedado que se baba copiosamente perante o excesso de input) volta as costas ao essencial. A sociedade actual faz juízos de valor baseada em factos de ficção. Há famílias a comprar edredons e conjuntos de louça baseando-se no episódio da telenovela do dia anterior. Os modelos de beleza são copiados de múmias sem forças nos braços que se arrastam anoreticamente por uma estreita faixa de veludo, observados por criaturas deprimidas/obsessivas alimentadas a tofu, soja, ansiolíticos e tranquilizantes. Revistas para adolescentes a oferecer antidepressivos tricíclicos, estabilizadores de humor e um bikini. Estatuto social comprado ao metro, ao peso e à hora. Crianças de 30 anos vergadas e derrotadas sob o peso da responsabilidade. "dois dos verdes antes de dormir, um dos amarelos quatro em quatro horas e um dos vermelhos antes das refeições"

terça-feira, agosto 19, 2003

Lavoisier multimédia

Antes tínhamos vida a cores e TV a preto-e-branco. Hoje temos TV a cores e vida monocromática. O equilíbrio não perdoa. A lei das massas para as massas!

A realidade para baixo do tapete

20:48, a família nuclear. Pai, mãe, filho mimado. TV ligada. Electrões que lhes atravessam o globo ocular. A criança não come fruta nem salada. Tlim! O jantar está pronto. De olhos postos na TV, mãos cegas apalpam a mesa, tacteando os degraus da pirâmide alimentar invertida. "Mais um país perde 15% da sua população em confrontos militares". E depois? Pergunta o pai. Como é que vai estar o tempo para amanhã? Não quero levar outra vez uma daquelas camisas de flanela que me fazem transpirar.

Controlo remoto. Vol +. "Como se sente em relação a ter perdido tudo nos incêndios, incluindo a sua esposa?". Lágrimas. Pausa. Novo amaciador para roupa com lixívia. Colgate. Lâminas de barbear para senhoras. All-bran. Jogo de futebol, um derby! Amanhã à noite. "Amanhã tenho que vir mais cedo!", diz o papá! Vol+. "Crise humanitária no...". zapping... "... vindo directamente da Tailandia". Gargalhadas engarrafadas padronizadas...

23:09, família nuclear. TV ligada, luzes apagadas. O gato observa as sombras nervosas que dançam na cara dos donos.

É azul celestial, Monsenhor?

Mesmo em fases de vazio há sempre coisas a dizer. Abençoados os blogs por suportarem as nossas evacuações, abençoado cérebro livre de tal adiposidade mental.

quinta-feira, agosto 14, 2003

Dão-se alvíssaras

Acho que perdi o sentido de humor algures neste blog. Dá-se uma choruda recompensa a quem o encontrar. Lá vão os dias em que me apetecia escrever "guias de fuga em caso de encontros com animais selvagens", "Consultórios para ajudar e escolher nomes de equipas de futebol de salão" ou mesmo acerca do Paulo Portas. Por outro lado, o meta-bloguismo também está out. Talvez um dia escreva sobre "as aventuras sexuais de um talhante satanista disléxico nas discotecas de música Celta da Bavária e o seu cão Robin"... Até lá que não me doam os dentes!

Acerca do amor e do grotesco...

- "O brilho de mil galáxias esmorece perante os teus olhos...".
Gritava ela do lado de fora da porta. Os seus pulmões estavam no limite e as suas faces ruborizavam de exaustão.
- Lembras-te? Ou já nem isto te diz nada?
A sua voz falhava momentaneamente em ciclos ritmados e o soluço já lhe causava muita dificuldade para respirar. Já nem sentia o quente das lágrimas que abundantemente lhe atravessavam o rosto, como se sempre ali tivessem estado. O desespero tomou conta de si, e, sem forças encostou as suas costas na porta trancada, deslizou até ficar sentada no chão, flectiu os joelhos e apoiou o rosto na sua mão esquerda. Estava naquele impasse há duas horas e mesmo assim parecia que ainda nada tinha acontecido. Quando acordou, logo pela madrugada, sentiu dentro de si que hoje não iria ser um dia normal. Ao olhar para o lado, sentiu de imediato a falta dele e, tão rápido quanto o seu cérebro o permitiu, lembrou-se das conversas que tinham tido na noite anterior.

quarta-feira, agosto 13, 2003

O pranto do acordenista taciturno

Nascido prematuramente, foi desde sempre super-protegido pela mãe. Nunca deixou de usar chupeta e apenas a vergonha das risadas dos colegas de escola primária criou em si uma necessidade de a largar. Aos 7 anos, a professora primária descobriu que urinava na cama todos os dias, facto que lhe foi negado pela mãe, que numa atitude desesperada procurou secretamente um pedo-psicólogo para a criança. Começou a falar apenas aos 4 anos e com fluência apenas uns anos depois. Aos 8 anos foi obrigado pelos pais a tocar acordeão, para poder brilhar no grupo folclórico da aldeia. Falhou. Aprendeu orgão e substituiu a Dona Lurdes nas missas dominicais. Protegido pelo padre da paróquia, cedo foi influenciado a seguir a via religiosa, num seminário. O único amigo que tinha tirou-lhe essa ideia. Aos 12 anos, uma sua colega fez uma aposta com os colegas em como o conseguiria envergonhar publicamente. Com sucesso. Apareceu todo nú no àtrio da escola, tendo-se urinado publicamente numa crise de choro. Na altura os "matulões" não deixaram que fugisse para aumentar o vexame. Acabou o liceu com dificuldades, depois de ter trocado 3 vezes de estabelecimento.

Sem nunca ter conhecido os prazeres da carne, decidiu tentar a sorte numa faculdade de Direito. Morava sozinho num quarto escuro, com uma janela que inundava a sua solidão. Chorava todos os dias. Acabou o curso de direito com estranha facilidade. Um amigo do falecido pai arranja-lhe um estágio numa firma familiar de advocacia. Sempre sem amigos, comprou um apartamento igualmente escuro num cinzento bloco de apartamentos. Aos 49 anos ainda chora... Apesar de ser agora membro de destaque de uma organização governamental! A sua mãe já não pode estar do outro lado do telefone e o único amigo que teve revelou publicamente a homossexualidade ao ter atingido notoriedade social. Os seus assessores sugeriram esse afastamento.

Em casa, sozinho ainda toca acordeão. Gosta de sons lugubres. Numa quinta isolada no Alentejo, gosta de tocar acordeão de noite, todo nú, sentado numa velha motorizada do anterior dono da quinta. De alguma maneira que não consegue compreender, isto excita-o sexualmente. Prefere quando o assento de couro está molhado com o orvalho da noite.

Guarda religiosamente uma pistola carregada que comprou aos 19 anos, destinada ao seu suicídio. Por 4 vezes já a agarrou, ponderando o uso.

Não fuma, não bebe, queimou uma auto-biografia que escreveu e não se lembra de longos periodos de tempo da sua vida, incluindo três dos quatro anos de faculdade. Não suporta usar calções, porque rapa frequentemente as pernas em ataques de pânico provocados pela pilosidade excessiva. Na barriga tem cicatrizes com as iniciais da rapariga que o humilhou aos 12 anos, feita com uma lâmina de barbear, aos 37 anos.

Verão infernal

Com estas sequências de verões infernais, começa o treino para o inverno nuclear! E o estimado leitor? Já começou a construir o seu bunker? Não, pois não? É que a piscina, o grelhador de exterior e a garagem para dois carros de pouco vão servir!

terça-feira, agosto 12, 2003

...sob a espada de Damocles

Estalinegrado, Outono de 1942

Um jovem casal, ainda na madrugada da vida, observava o ceú através de um enorme buraco no telhado provocado por um bombardeamento nazi. Era um final de tarde cinzento-avermelhado e o céu encontrava-se cheio de poeira bélica. Os ataques constantes há muito que deixaram de sobressaltar o casal. Naquela tarde tinham-se amado fisicamente pela primeira vez, entre bombardeamentos e tiroteios. Nada conseguia apagar o sorriso que lhes brilhava na cara. Contavam os aviões que passavam, seguros que nada lhes poderia acontecer, pois não havia nada mais a destruir naquele bairro...

segunda-feira, agosto 11, 2003

Monólogos do surdo

Estava um erudito na praça a recitar grandes pérolas de sabedoria. Citava escritores gregos, filósofos alemães, pós-modernos americanos. Ia desde os provérbios celtas até aos príncipios morais Incas. Escritores sul americanos e cubanos passavam também pelo seu extenso rol de erudição. Distribuia pérolas ao povo, como gostava de lhes chamar. Eclético, de pose dura e altiva, gostava muito de falar e pouco de ouvir. Lá ia ele, desfolhando citações atrás de citações. Chamava a atenção para belezas ocultas, mensagens encapsuladas e para a moral que podia advir daquelas pérolas.
Um dia, sentado numa esplanada diante de uma vasta assembleia de ouvintes, desfilava um extensa lista de citações de um escritor idealista dos anos 60. Falava que se as coisas fossem perfeitas, não o seriam por muito tempo. Construia raciocínios que depois associava a outros prévios e o povo lá ia ouvindo entre uma ou outra cerveja. A certa altura aparece um pastor. Senta-se na plateia e ouve com atenção à espera de uma altura para intervir. Uma ou outra vez tentou falar, mas o sábio falador não lhe dava oportunidades. O erudita pergunta a certa altura à plateia qual a moral da história que acabara de contar. O pastor, humilde e simples, nas suas roupas gastas e velhas coloca o braço no ar e tenta mais uma vez intervir. O sábio diz "pensais vós que sabeis, mas a verdade é outra". E continua a falar cegamente sozinho. O pastor tenta de novo falar e o pregador não lhe dá essa possibilidade.
A certa altura, farto de esperar e irritado com a situação, o pastor levanta-se num só movimento, sobe para cima de uma mesa. O pregador, num gesto abrupto, manda-o sentar rapidamente. O pastor não obedece e em plenos pulmões, para se conseguir fazer ouvir, diz: "Só queria avisá-lo que a sua casa está a arder!"



sexta-feira, agosto 08, 2003

Acidentes heurísticos

Alienado por mais duas horas de entorpecimento mental, voltou ao local de onde tinha saído naquela manhã. "Ó meu Deus!", pensou. "Outra vez aqui!". Na manhã seguinte acordou, levantou-se, abriu a porta do quarto, dirigiu-se ao corredor, acendeu as luzes da casa de banho e entrou. Abriu finalmente os olhos e mirou-se no espelho. "Outra vez esta imagem". Fez uma cópia do acto normalizado de barbear, tomou banho, sempre com a sequência de movimentos repetida. Pensou "estou novamente atrasado". Na realidade, era uma repetição de outros atrasos, pois nunca tinha sido pontual. Saiu de casa apressadamente, quase atropelando um gatinho que ali estava todos os dias, sempre prestes a ser atropelado. Ele, o gatinho, mais do que qualquer ser racional, estava perfeitamente sincronizado com o ritmo do seu nicho ambiental. Aquilo que poderia parecer uma previsão do futuro, era na realidade uma repetição do passado. Desbotada de tanto uso. Como um espelho frente a outro espelho, apontada ao infinito, vinda do início dos tempos. Tempos esses que são padrões. Padrões modulares, encaixados como Legos sem cor. Apenas uma imagem lhe vinha à cabeça enquanto conduzia. Um TV em fim de emissão enquadrada numa foto de tons sépia. Electricidade estática em 3D...

terça-feira, agosto 05, 2003

Compaixão de Judas

Como se não bastasse a praga de incêndios que assola o país de norte a sul (basta escolher um blog ao acaso para ler pormenores), existe ainda uma praga de jornalistas que acompanha a situação. São jornalistas devidamente treinados para espalhar o pânico e aterrorizar donas de casa menos precavidas. O caso é grave e não necessitamos de meia dúzia de putos a correr pelas ruas atrás dos carros de bombeiros de microfone e camera na mão. Aos gritos e saltos, sempre à espera de mais uma catástrofe. Essa corja de abutres a lutar pela carne morta.
Ainda assim, nestas alturas, são preferíveis os demagogistas do costume com os seus sacos de rebuçados e os olhares ternos lançados a velhinhas e a criancinhas. A compaixão de Judas.

Retalho não linear

... e de repente ia rápido demais. Percebi pela primeira vez que afinal o objectivo era utópico. Virei à direita bruscamente e meti-me dentro de uma moita de silveiras. Metade da minha roupa ficou lá. Ao chegar ao fundo, arranhado e semi-nu, bati com a cabeça numa grande pedra. Acordei passados cinco minutos e perdi a memória. Completamente e eternamente! ...
E como sei isto? Olha que pergunta!... Vi o vídeo!

sábado, agosto 02, 2003

Frase da noite (castor de bronze)

Durante o filme Blade (aquele dos vampiros, estão a ver?), um vampiro diz o seguinte:
"...Isso não passa de um conto de fadas."
Bem, não sei se estão a ver a gravidade disto. Dito por um vampiro.

sexta-feira, agosto 01, 2003

As consequências da dependência da Internet - Aníbal: um testemunho

Instrospecto, com a mente dentro do PC, Aníbal dedica-se a mais uma sessão de anonimato activo. De insulto em insulto, Aníbal lá vai lendo o início de cada texto, certo de que sabe o conteúdo completo pela análise do primeiro parágrafo. Não lê mais do que isso. Avança rapidamente para o local onde possa praticar o seu desporto: os comments. "Agora é que vai ser... Aposto que ninguém vai dizer nada mais inteligente!". Seguindo um raciocínio Anibalista, numa sequência de 12 comments, o QI do último interveniente seria de 368. Entretanto a porta range docemente. Aníbal sabe quem é, o que ajuda, pois pode poupar o esforço de verificar.
- Olá Aníbal! Estás bom?
- Dona Luísa? Ainda por aqui?
- Sim, rapaz! Ainda não fui... Já devia lá estar há tanto tempo... Sabes, tenho medo.
- Não se preocupe dona Luísa. Eu acho que não custa nada. Vá, respire fundo e faça a decisão.
- Tens razão Aníbal... Mas falta-me a coragem. O pior é que já ninguém me vê com os mesmos olhos.
- Mas afinal há quanto tempo é que já morreu, D. Luísa?
- Faz agora 6 meses.
- E não acha que está mais que na hora? Olhe que a sua vizinha, a dona Ilda foi bem mais rápida.
- A Ilda? Essa falsa? Essa má-língua? Foi mais rápida?
- Sim, foi logo no dia a seguir.
- Olha Aníbal, é desta que vou. E tu? Demoras?
- Não sei... Devo ir ainda esta semana. Tenho ainda uns posts para acabar, um comentários a escrever, ver o email e os stats e assombrar ali a casa do vizinho que toca saxofone às 2 da manhã.
- OK. Fico à tua espera.
- Não. Vá andando que eu vou lá ter depois.