Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
dubois@aeiou.pt

segunda-feira, março 29, 2004

Goethe foi de férias (pré-embrionário)
Simbologia a dar para a astrologia de identificação fácil e universal ou o-maior-subtítulo-de-sempre

Foram longos dias arrastados ao sol seco. Aquele calor que provoca ilusões de óptica, aquele que fumega do asfalto. A sede e o silêncio da solidão que nem para amigos imaginários funcionou. Este tempo todo te arrastaste à espera do fim, sem nunca teres compreendido que o início estava para chegar.

quinta-feira, março 25, 2004

O flashback do dia

Ramones

Ramones

segunda-feira, março 22, 2004

Obsessões [01]

Ilda, professora de francês, 43 anos. Solteira. Namorou 12 anos com um tipo que a trocou por uma miúda universitária que engravidou. Mal consegue suportar a mensalidade do crédito do ninho conjugal que entretanto azedara. Obriga todas as pessoas a limpar as solas dos sapatos com álcool antes de entrar em sua casa. Independentemente de quem sejam. Autodidacta de artes astrológicas. Adepta de misticismos exóticos que não tolerem a promiscuidade. Tem na parede da sala uma enorme estante com as gravações de todas as emissões de um locutor da Rádio Renascença por quem se apaixonara. Acredita que a voz é o som da alma e as palavras a comunicação do corpo. Acredita poder descodificar duas mensagens simultâneas na mesma mensagem falada.

sexta-feira, março 19, 2004


Compro T1 ou T2

Boa localização e boas áreas


Barato


terça-feira, março 16, 2004

Gabinete de apoio à vítima (ponto org)
... Loading your personal settings [...]

"Somos todos egoístas na nossa dor". Há duas maneiras diferentes de enfrentar a dor alheia. Com um certo gozo disfarçado de compaixão ou com um aperto no esfincter acompanhado por um calorzito alarmante nos lobos laterais do cérebro. O gozo disfarçado de compaixão acontece quando um casal amigo se separa ou quando um grande amigalhaço apanha 3000 euros de multa e a carta apreendida por 2 anos. Ou mesmo quando rebenta uma bomba num meridiano a 180º do nosso e toda a gente quer consumir mais TV à espera de carnificina em formato 4 por 3, refrescamento 100hz e com Coca-Cola light no intervalo para activar subliminarmente as pupilas gustativas.
O outro tipo de dor é mais sentido. É como quando descobrimos que alguém na nossa família tem uma doença terminal hereditária ou quando o governo muda e nós fomos contratados por um chefe do antigo governo. Ou mesmo quando os corpos despedaçados ficam no meridiano adjacente e quando tens o diabo sentado no telhado.

Pensamentos de elevador
Soneto 27

Em pânico, ao ver toda a gente e gritar, gritei. Depois, olhei para mim, e reparei que era como uma beata alarmista. Daquelas que nos dizem que antigamente chovia mais, os campos enchiam e prosperava a agricultura, no entanto, dizem sempre também que nunca esteve calor como agora. Dizem que agora não se pode confiar no tempo porque já não há estações do ano definidas. Daqueles que pedem uma resposta standartizada, do género: "Olhe senhora, há uns milhares de anos atrás, esta merda estava coberta com 50 metros de gelo. E não era por ser inverno. Era sempre assim... Mais 5 menos 5 em volta dos 89 graus negativos". E que ela que se despache a aproveitar o sol, porque daqui a uns tempos volta a neve de 50 metros outra vez. E não é bombas e guerras. É mesmo ciclo natural do planeta. Arqueólogos do futuro longinquo não distinguirão Misseis Nucleares Intercontinentais de espingardas de rolhas. Como para nós, uma seta de pedra afiada e uma lança de bronze são a mesma coisa. Ou como vistos do limite do sistema solar, somos apenas um pequeno ponto invisível emissor de ondas rádio. E podia continuar numa perspectiva fractal de dentro para fora. O típico episódio um de qualquer documentário da BBC.
Há um gajo qualquer que diz que o universo tem 9 dimensões e o ser humano tem apenas compreensão para 5 dimensões e não é para já. E pergunta-me a estimada audiência "Mas como é que ele sabe?". Não sabe, queridos leitores, mas vende imensos livros e leva toda a gente a imaginar universos de 9 dimensões e a sentir-se inteligente. Na realidade são apenas modelos de 3 dimensões, mas grandes. Dá uma boa conversa de café. Mas, infelizmente, só na Dinamarca ou Nova Zelândia.

In order to make an apple pie from scratch, you must first create the universe.
- Carl Sagan


segunda-feira, março 15, 2004

Efeitos secundários

... e assim o mundo se vai comendo a si próprio. Às fatias!

Clockwork Blues
(aqui ficava bem música)


Clockwork Blues
foto(s) por Pedro (Creative Commons License) - 2004

quinta-feira, março 11, 2004

30 e tal rotações por minuto

O silêncio ensurdecedor. O silêncio abate-se sobre ele como se a atmosfera tivesse aumentado 100 vezes de pressão num microsegundo. O disco tinha chegado ao fim. Um gira discos velho que não recolhia automaticamente a agulha. O maxi single "True Faith" dos New Order rodava entre as 31 e as 36 rotações, fruto do excesso de uso nos anos 80, associado à má qualidade da rede electrica da região. Um remix raro. Segurava um cigarro no qual apenas tinha inalado uma vez. A gravidade dobrava a cinza. Mirava um ponto algures entre si e o tecto. Tinha o coração apertado, a respiração pesava-lhe.
Da memória não conseguia afastar o momento em que um paramédico espetou uma enorme agulha no coração dela. Uma facada para o esquecimento. Conseguiu ver a última exalação que dela saíra. Aquela que transporta a alma, que a desloca do corpo a caminho do grande desconhecido.

Guardava apertados na mão algumas notas que ela lhe tinha deixado no frigorífico nesse dia. "Somos apenas carne ou somos prisioneiros celestiais encarcerados em carbono com um pacote de restrições?". "Não acredito... Se parar, morro...". "O teu silêncio é de eloquência máxima num púlpito. O público são os milhões de desdobramentos de mim própria, na multiplicidade de negações, desejos e repressões. Êne factorial elevado a qualquer coisa eus".

Compreendia dolorosamente o significado de "para sempre". A eternidade é matemática e o Homem é a negação da lógica. A eternidade é o pretexto que nos prolonga as acções. É preguiça emocional. Disse-me ela uma vez: "É como se estivesses à conversa com a vizinha confiante no atraso do autocarro e, nesse dia, ele vem a horas"

segunda-feira, março 08, 2004

Sagan Vs Hawking (edição em BD)
Round 1 - Inverno de 1978

Sagan - Jane?
Secretária - Sim, Dr. Carl.
Sagan - Acha que estou a ficar careca? -
Secretária - Careca? Não, Dr. Está mais atraente que nunca. O meu docinho de chocolate.
Sagan - Jane, desculpa aquilo ontem, nunca me aconteceu...
Secretária - Não há problema. Acontece a todos e não é só isso que importa...
Sagan - Jane, estou a pensar fazer uma série de TV.
Secretária - Série? De que tipo?
Sagan - Não sei. Talvez faça uma novela acerca de uns tipos do Texas com umas máfias do petróleo ou então adapto o Cosmos para TV.
Secretária - É boa ideia...
...
Sujeito-suspeito-vestido-de-cabedal-com-equipamento-de-espionagem-telefónica - Dr. Hawking, Sagan planeia uma série de TV.
Hawking - Aquela telenovela que ele fala sempre em congressos?
Sujeito-suspeito-vestido-de-cabedal-com-equipamento-de-espionagem-telefónica - Não, o Cosmos...
Hawking - Merda! O que é qiwo ioasid idoasp ioapsdi pas.
Sujeito-suspeito-vestido-de-cabedal-com-equipamento-de-espionagem-telefónica - ???
Hawking - paosioa sid9asd ia'0s ASCII...
Sujeito-suspeito-vestido-de-cabedal-com-equipamento-de-espionagem-telefónica - Desculpe, deixe-me fazer reboot ao seu sistema de som.
(5 minutos depois)
Hawking - Assim está melhor. Ligue-me à NBC. Proponha-lhes uns documentários feitos por mim.
Sujeito-suspeito-vestido-de-cabedal-com-equipamento-de-espionagem-telefónica - Sim, Dr.
(15 minutos depois)
A sua chamada está em espera...
(45 minutos depois)
Sujeito-suspeito-vestido-de-cabedal-com-equipamento-de-espionagem-telefónica - Dr, eles têm a agenda científica cheia até 1997.
Hawking - Merda... Como é que o Carl conseguiu?
Sujeito-suspeito-vestido-de-cabedal-com-equipamento-de-espionagem-telefónica - Tem lá uma prima na administração.
Hawking - Hummppfff...

(continua)

Próxima aventura - Hawking inventa o PDF e vende a patente à Adobe para arranjar dinheiro para autofinanciar os seus documentários.

Filhos de um deus menor

Filhos de um deus menor

quinta-feira, março 04, 2004

Vox Pop
abortivus internecio (ou lá o que é)

Desde a invenção do astrolábio que as coisas mudaram. Este conceito de difícil compreensão e de quase impossível assimilação foi trazido à luz por um famoso investigador prussiano pertencente ao poderoso grupo de influência Kamarilla algures no escaldante verão de 1845. O rei, não contente com o facto de ter gasto ouro no valor de mais de 3 colheitas a financiar esta investigação, pergunta se o investigador pode aprofundar melhor esta conclusão. Irado com o rei, o investigador protesta por não ter culpa que os ventos e o Inverno frio tenho destruído o seu equipamente científico, que consistia em melhoramentos mecânicos de alguns papiros semi-queimados de Alexandria. O rei manda-lhe cortar a cabeça. Um assessor do rei lembra-o discretamente que a pena de morte havia sido abolida e que, além disso, era preciso um julgamento para o fazer, e apenas no caso de o veredito do juiz ser nesse sentido, por sugestão do juri, que teria que ser escolhido entre os homens da nobreza através de um sorteio aleatório. E além disso o responsável por esse processo estava de férias em Marrocos onde havia sido preso por uma semana ao ser apanhado na cama com uma filho de um Xá qualquer que na altura se fazia passar por camponesa síria à procura do seu marido emigrante desaparecido. O carcereiro estava de baixa e, por morar num lugar remoto, teve que ser assistido por um médico a 500 km de casa. Só ele poderia assinar os papéis de saída do responsavel por escolher o juri para ajudar o juíz a julgar o investigador que se tinha aproveitado para fins pessoais de uma verba pública para investigação e fortalecimento do orgulho prussiano. Foda-se!!!... disse o rei. Empresta-me aí a espada que eu depois faço um decreto de lei.

terça-feira, março 02, 2004

Cinema mudo
Projecto cinematográfico para as massas

Era apenas um figurante ali. Tentou abrir a boca para falar com outro figurantes, mas nada saía. Bolas, pensou... Foi nesse preciso momento que se apercebeu que a seu papel no filme era apenas cenário e um número contabilístico. Revoltado, avançou em frente e gritou. A voz saíu muda mais uma vez . Alguém gritou corta! e a cena repetiu-se, desta vez sem o incómodo do figurante que um dia pensou ter voz.

É a história de um figurante triste que em casa fazia teatro.