Há que documentar o vazio. Agora também em mármore!
dubois@aeiou.pt

sexta-feira, outubro 31, 2003

Obsoleto

Obsoleto
foto por Pedro (Creative Commons License) - 2002

News-flash

Senado dos EUA aprova o corte de árvores para prevenir incêndios

Que ideia genial... Como é que ninguém se lembrou disso antes? Só espero que o Echelon, além de fazer aquelas coisas todas que já se sabe, também produza oxigénio!

quinta-feira, outubro 30, 2003

Um abraço de enguias

O visco dos dias. Quando vais sozinho, no elevador, olhas para o espelho e fazes aquela cara que quase ninguém conhece. És livre, és tu. Mais do que quando chamas filho da puta ao gajo que te corta numa rotunda. Aí não és tu. És a tua própria incompetência para acordar cedo e guardar tudo para o limite, para que possas estar mais tempo em frente à TV (e sucedâneos) ver todos os canais. Todos mesmo. Insistes em sintonizar mesmo aqueles que nunca na vida verás. E sabes que não os vais ver. O número é que conta. Número. Eu tenho X+1 de Y+1. Mais que tu, que só tens X de Y. Quando estás sozinho no planeta Sombra, tens o teu mundo. No real sentido da palavra. Mundo. Quando te misturas com imagens desfocadas cinzentas que caminham nos passeios, conduzem na estrada e partilham os mesmos metros cúbicos de ar, não és tu. É o teu casulo exterior. Que te protege enquanto jogas Mikado por dentro.

Uma bolachinha sintética!

Um dia destes usaremos assim expressões tão naturalmente como hoje dizermos "Onde estás?" numa conversa telefónica.

terça-feira, outubro 28, 2003

Chuva

Gosto destes dias cinzentos chuvosos. Cada vez que o digo a alguém sou imediatamente atacado com olhares de psiquiatras prestes a passar receitas. Não que isso faça de mim um potencial suicida ou um psicopata assassino. É um gosto tão legítimo como gostar de um dia de sol e calor. O que me encanta nestes dias de cinzento carregado são as texturas, os contrastes, as nuvens, as cores, os reflexos da água e o facto de me sentir outra vez criança numa viagem de redescoberta dos sentidos, ano após ano. Novos cheiros, novas cores, a sensação do molhado e os sons omnipresentes da chuvosa natureza. Por vezes estes dias relembram-nos da nossa fragilidade e de como nem tudo está controlado. Estes dias são úteis... Trazem-me à flor da pele o gosto pela vida.

segunda-feira, outubro 27, 2003

O Padrinho

Arredores de uma cidade em tempos grande. Finais de 2003. Portugal. Jantar de família completa (aqueles com mousse de chocolate Alsa).

Depois de um farto jantar, toda a família ri e conta histórias. Sempre as mesmas. Toda a gente ri, como sempre. Felicidade de família completa. Quem tem, sabe do que estou a falar. Lá fora está frio e uma chuva teimosa teima em arreliar os membros da família que se deslocam aos veículos para trazer prendas. As piadas light que fazem rir sem ser preciso ouvir. Crianças. Há sempre crianças.

A determinada altura alguém olha pela janela e vê o que parece ser um reflexo de alguém a fumar. Olha para dentro e depois volta a olhar para a janela. Não é reflexo, pois alguém está mesmo do lado de fora a fumar. Não entra. Alguém reconhece a pessoa e manda-a entrar. A pessoa não quer entrar. Novamente se pede que entre. Desta vez mais pessoas. Toda a gente quer acolher aquele semi-estranho no quente lar e partilhar um pouco de comida e calor com ele. O estranho entra e fica à porta. Fica a olhar a família. Vestido de negro numa divisão escura. Olha em silêncio. Algo está mal... A única coisa que brilha são os seus olhos. E não é alegria, são lágrimas tremidas. Daquelas que demoram a cair por serem gordas e grandes. Aquelas que caem em camara lenta.

O estranho tem nome. Chama-se Nikolai. Um emigrante de leste que é empregado de um dos familiares. Aquele que empunha uma garrafa de Johnny Walker de 12 anos. Especial para ocasiões. Nikolai entra e senta-se. Não consegue falar e o seu maxilar treme. As gordas lágrimas acumuladas na pequena membrana óptica tremem em conjunto com os seus lábios e maxilar. Tenta conter soluços. Pede num português imperfeito e envergonhado "Posso falar consigo"? O homem do Johnny Walker diz "Sim. Fala homem! Não queres comer e beber nada? Uma cerveja?". Nikolai gesticula um "não" em russo.

Numa sala separada Nikolai conta ao seu patrão o que se passou. Enviou para casa 2000 euros para um "amigo" trazer a sua esposa para Portugal. A sua esposa é então "contrabandeada" para Portugal. Algures da Europa um telefonema foi feito para Nikolai. Se ele quiser voltar a ver a esposa terá que pagar mais 15000 euros. Senão ela ficará perdida na grande Europa, alimentada diariamente a heroína, presa pelo vício. Uma máquina de carne a produzir dinheiro para um abutre. Nikolai não sabe como explicar isso aos filhos, a cuidado de uma avó mentalmente presa na URSS. Nikolai não pede dinheiro, apenas pede para ser dispensado por uns dias para viajar Europa dentro de autocarro, numa viagem cega que o vai levar a nenhures.

Era de prever

É engraçado como as coisas acontecem. O acaso (esse cabrão previsível) traz-nos coisas de bocejo. Eu estava à espera que um avião arrasasse um terço da cidade e pimba... Apanha-me uma coincidência previsível.

sábado, outubro 25, 2003

Cedo se faz tarde

E as coisas que na vida não correm, também não aceleram. Provavelmente será mais fácil ganhar a lotaria.

quinta-feira, outubro 23, 2003

As cinzas que caem de cima...

...fazem um castor cinzento!

A variável

O estudo
Um dia um homem decidiu parar. Saltou fora do fluxo do planeta e ficou a olhar. A contemplar. Ali parado a ver, analisar e tirar apontamentos de uma perspectiva exterior. Percorreu todos os pontos do planeta com o seu gasto bloco de notas e meio lápis. Ao fim de algum tempo constatou que a sua tarefa era de resolução impossível. A vastidão humana nas suas infinitas combinações não permitia o resultado estatístico a que se tinha proposto. Recomeçou. Desta vez estava decidido a analisar as diferenças interiores das pessoas. Tentando arranjar um algoritmo (equação/teorema) que permitisse definir a amplitude que existe entre o pensamento/sensação/emoção e a acção.

Ao longo do tempo foi reunindo notas, apontamentos e resultados temporários. Elaborando pequenos gráficos que depois expandiam para um infinidade de opções. Grafos e árvores de rabiscos. Cada vez ia ficando mais deprimido. A natureza humana decepcionava-o quando confrontada com as suas expectativas. Tentava combater o desprezo que por vezes lhe percorria o pensamento. Tentava que a sua razão e coerência flutuassem naturalmente sem intervenções artificiais.

Ao fim de anos de pesquisa começou a analisar os registos. Durante outros tantos anos foi refinando a equação. Havia uma variável que estragava sempre o resultado. Uma variável que tornava tudo inconclusivo. O factor delta-nulo, como lhe chamava. Delta nulo pela incapacidade que provocava na equação. Uma incapacidade de arranjar um valor de amplitude coerente. Sentou-se a pensar no problema. Dias depois chegou a uma conclusão. Uma terrível conclusão. Uma conclusão que iria inviabilizar todo o projecto. Ele era o factor delta-nulo. Devido à incapacidade de atingir um grau de abstracção suficiente para ser imparcial, todo os seus estudos foram afectados.

O resultado
Tentou voltar ao mundo. Dia após dia ia falhando a sincronização com o natural fluxo da vida. Quando pensava que estava já perfeitamente reabilitado, algo o relembrava que afinal estava completamente fora da realidade. Durante mais alguns anos falhou a reinserção, ficando cada vez mais desesperado. Sentia uma membrana invisível que o separava da realidade, fazendo dele um pária. Com o decorrer do tempo foi-se preocupando cada vez menos com isso, substituindo o espaço em branco por ódio, desprezo e ira. Até que um dia chegou ao ponto inverso. Como se tivesse virado uma ampulheta que no meio tem um conversor. Quando a areia que continha a força de vontade de reabilitação passou para a zona de ira, tudo parou. Ficou em branco e parou. Zero absoluto...

A dois dias do fim...
...passeava-se pelas ruas da cidade explicando os seus estudos aos transeuntes que o ignoravam. Por vezes era mal tratado. Outras vezes repudiado. Havia quem tivesse compaixão. A polícia prendia-o recorrentemente. Dormia na rua e vivia da caridade. Havia mesmo quem gostasse dele, mas a membrana invisível, tinha também um efeito ofuscante. Acinzentava mesmo o colorido. No entanto, interiormente, sabia que o problema não era dele, mas do resto do planeta. E isso fazia-o sorrir durante as noites, quando partilhava uns restos de comida e um cobertor velho com outros. Os loucos, como lhe chamava.

quarta-feira, outubro 22, 2003

Esclavagistas

Com um pouco de dinheiro, facilmente se transforma um escravo em assalariado. Muda o termo, fica a sensação. E por muito que esse dinheiro seja, as grilhetas teimam em apertar.

Sonho com esplanadas durante horas perdidas, viver uns tempos sem tecnologias digitais (não muito tempo, claro!). Durante uns tempos apetecia-me não ter horários, não hiper-ventilar nas filas de trânsito ou de não ter vontade de esmagar o telefone com uma marreta.

terça-feira, outubro 21, 2003



Cassete 9, Dia 4. Paciente BN9852
"(...)
Na altura nem pensei nisso. Na altura fiquei com uma percepção errada do acontecimento. Sei isso agora... Sei isso porque me lembro. Claramente. Como se tivesse sido hoje de manhã. Eu estava em casa a ler o jornal na cozinha. Sempre gostei de ler lá de noite, pois a luz é branca e forte. Ela vinha ter comigo a toda a hora. Sempre a mesma questão. Não me lembro da questão, mas lembro-me da sensação de impaciência que me provocou. Passado algum tempo atingi mesmo o ponto de desespero. Eu não a aguentava. Já não suportava a voz. Entrava em mim como uma doença, corroía. As ondas sonoras ecoavam no meu interior, fazendo tremer toda a minha estrutura. A certa altura começou a doer. De início era forte e localizado e depois alastrou.
[fast-forward]
Quando ela foi dormir peguei na arma que estava na mesa de cabeceira. [click][reverse]...na arma que estava na mesa de cabeceira. Peguei na arma e coloquei junto à cabeça dela. Pressionei ligeiramente e senti que escorregava no couro cabeludo. Estava a suar. Como sempre suava. Malcheirosa. Premi o gatilho até meio e senti que mais um milímetro podia acabar com tudo. Beijei-a na orelha e sussurrei-lhe o nome. Ela acordou. Disparei e voltei para a cozinha ler o jornal. Ainda me demorei uma ou duas horas até voltar à cama. Dormi a seu lado suavemente. Ela ressonava. Eu sei que ressonava. Antes do amanhecer sou acordado pela polícia que me batia na porta. Fui levado para a esquadra e ainda pude ver o nascer do sol por detrás do parque da cidade. Sempre neguei tudo, porque posso afirmar conscientemente que a ouvi ressonar durante a noite.

segunda-feira, outubro 20, 2003

O estado do Estado (e os seus attachments)

Devemos todos ficar preocupados quando as discussões de estado não estão directamente (nem indirectamente) relacionadas com os nossos problemas, nem com os problemas dos nossos colegas cidadãos anónimos. Afinal somos apenas 9.999.000 e qualquer coisa. Numa altura em que os nossos representantes se esqueceram completamente da existência de um país com situações por resolver, os nossos representantes batalham-se por uma imagem limpa diante da opinião pública. Um jogo de voleibol com uma bola de metal quente.

Fico triste que assim seja, até porque não há solução. Talvez mudar completamente todos os staffs de todos os partidos, mas isso implicaria deixar as forças de background activas e essas é que controlam realmente. Pessoas de quem nunca ouvimos falar e apenas as podemos ver quando os seus Mercedes topo de gama nos ultrapassam na auto-estrada. Vidros fumados...

Ainda estou à espera de uma resolução concreta, transparente e realmente inovadora. Até lá, que não nos doam os dentes!

domingo, outubro 19, 2003

Insensatez

Uma vez pensei na ideia das palavras que perdemos quando apagamos algo que não interessa, reescrevemos algo que estava bem inicialmente ou simplesmente as pensamos e não as colocamos no ecran. Eu diria 85% para bloguistas, 56% para escritores e 98% para jornalistas. Isto falando de real aproveitamente das palavras (total menos aquelas que apagamos). Mas depois disso, vi uma reportagem fotográfica no National Geographic (que era sobre uma merda qualquer na China) em que o fotógrafo tirou aproximadamente 22 mil fotos e apenas ficaram 16 na revista. E não estou a falar de milhares, mas sim de unidades. 16 fotos... Pensei para mim:"que poupadinho sou" e depois deixei de reciclar.

Mudança

Há quem diga que nada muda. Há quem diga que tudo muda. Há quem diga que alguma coisa muda. Mas a única coisa que muda é a maneira como é dito, pois a diferença está nos olhos do espectador.

sexta-feira, outubro 17, 2003

Portugal

Sexo: nada como um bom escândalo para enraizar uma tradição... Vê aí na lista o que vem a seguir!

quinta-feira, outubro 16, 2003

A troco de nada

Foi a troco de nada que ela interviu.
A troco de nada que se prontificou a ajudar.
A troco de nada perdeu tempo a usar todos os princípios morais que tinha dentro.
A troco de nada chorou ao ver-se impotente para resolver o problema.
A troco de nada se viu convocada a comparecer em tribunal.
A troco de nada se viu responsabilizada por uma situação que não tinha originado.
A troco de nada destruiu a sua vida. A troco de nada ninguém a ajudou.

A troco de nada perdeu tudo.

quarta-feira, outubro 15, 2003

O velho e o farol

Estava um velho muito velho sentado em frente do velho farol. Num banco de pedra, velho, com a forma da erosão natural provocada por milhões de horas que o velho, e outros velhos, ali haviam passado a olhar o mar. Quando jovens marinheiros chegavam das suas viagens pelo mundo, o velho corria ao seu encontro. Desejoso de falar que em tempos também o velho teria sido novo e também em tempos fez as suas viagens. Os jovens não o ouviam e riam sempre na sua cara. Por ele expressavam escárnio de quem olha para uma animal engraçado. Ter o velho a falar ou um macaco acrobata surtia o mesmo efeito nos jovens marinheiros. O velho não percebia e pensava que se tratava de respeito. E contava as suas histórias. As mesmas histórias de sempre. Um misto de realidade e imaginação que há muito teria sido absorvida como realidade pelo seu cansado cérebro.

Ao final da tarde, ao chegar a casa contava histórias do dia à sua esposa que morrera há três anos atrás. Nunca perdeu o hábito, e o convívio de 53 anos de casamento permitiu que pudesse conversar com ela, mesmo não estando presente. O velho dormia e sonhava com o próximo dia no farol...

terça-feira, outubro 14, 2003

Discurso a uma colónia de morsas

- Compreendem?
- ...
- Então? Compreendem ou não?
- Sim!... Mas pode explicar de novo?

Uma pergunta a Darwin

É estranho. Não acreditei nas primeiras vezes. O canário do meu vizinho canta uma melodia de Prodigy. Agradável, quase que dá vontade de pegar nele, apertá-lo, encostar ao ouvido e dizer "Estou!?!". Chamo-lhe o Canarius Vodafonis. Um freak de Sega disse uma vez acerca disto -"Sai da frente, que estás a tapar a TV".

Luminância

Ou estou a ser teleportado para um OVNI ou então estou a precisar de dormir!

segunda-feira, outubro 13, 2003

Retro-paisagem
A perspectiva do património sobre o turista

Retro-paisagem
foto por Pedro (Creative Commons License) - 2002

Flashback [1] (autobiografia, capítulo 36, parágrafo 12)
Março de 1986

Ao acordar nesse dia não suponha que uma tramóia havia sido montada contra mim. Denegrir a minha imagem era o seu objectivo. Ainda eu escovava o cabelo que teimava em fazer crescer (e a minha mãe teimava em mandar cortar), já um representante da paróquia estava a falar com a minha mãe. Fui até ao fundo do corredor e ouvi a conversa do cimo das escadas, escondido no escuro a observar a cena pelo espelho rocócó.

- Só pode ter sido ele. - dizia a senhora irritada.
- Mas o meu filho esteve em casa toda a noite! - reagia a minha mãe indignada.
- Desculpe, mas não há mais ninguém que o possa ter feito.

Uma caveira com os escritos "Iron Maiden" tinha sido pintada na porta de uma igreja perto de minha casa. Pintada a lápis de cera. Uma vingança fria e calculada por eu ter colocado um disco de Judas Priest aquando de uma procissão em honra de... não sei bem... Desde que me tinha recusado a matricular na disciplina opcional de Religião e Moral, o padre tinha deixado de me falar. Tinha os tipos da Legião de Maria à perna, com sangue na boca e a gritar por vingança. Este plano tinha resultado em pleno e a minha imagem tinha caído por terra. No entanto, era preciso alguém para continuar a sintonizar e instalar video-gravadores e regular equalizadores das imensas aparelhagens Pioneer que se compravam na altura, pelo que nunca perdi o respeito do pessoal mais novo.

Papel celofane e cascas de banana...

Não fora aquele pensamento veloz que me avisou que o senhor era extremamente pobre, e eu pensaria de imediato de que se tratava de um daqueles freaks do revivalismo. Mais como um taxista benfiquista de 1982. Só que mais doente e com menos capacidade de locomoção. A minha mente brincava com imagens fractais de imaginação, que ligava aquele homem a uma vida excitante à margem da sociedade, com a sua tribo ali por trás das torres da Avenida Elísio de Moura. Apenas vindo à cidade 3 vezes por mês, buscar arroz e registar o totoloto. Tinha uma cabra que associava ao deus Sol pela imensa bondade com acariciava a sua prol. Não... Nada disso, disse outro pensamento que chegou um pouco atrasado. O homem é pobre e quando começar a falar, esse pensamento desaparece como fumo de cigarro num infantário. Os video musicais e esta pop-art (15 minutos, caralho, só te aguentas 15 minutos escrito a rosa-choque) distorcem a realidade. Andy Warhol nunca foi muito bom a ver as horas.

PS: As más línguas dizem também que Stephen Hawking ainda nem se habitou bem ao PDF...

sexta-feira, outubro 10, 2003

Poderosos indutores de tédio

- A vida de outrém contada detalhadamente na primeira pessoa
- Pessoas que falam de si na terceira pessoa
- Histórias do ultramar (e tropa em geral)
- A vida nas ex-colónias (no meu tempo é que era)
- Histórias da escola de condução
- Sic Gold
- A história "acabei com a minha/meu namorada(o) porque..."
- Festival Eurovisão da canção
- Ordenar alfabeticamente os queijos no frigorífico (por tipo e quando empatam, por marca)
- Abrupto

O Google

Hei, rapazola! Sim, tu!... Não estejas a olhar para o lado, porque estou a falar contigo! Foi o google que te trouxe aqui?! Foi, não foi? Não mintas que eu não gosto de meninos mentirosos... A tua mãe sabe que andas na Internet à procura dessas coisas? Pois a mim também me parece que não. Quer dizer, começas à procura de coisas para os trabalhos da escola, cravas os velhos para te pagarem uma ligação à Internet e depois é isto que acontece... E espero que com essa intensa pesquisa que tenhas descoberto que os cavalos não fazem essas coisas. Para a próxima lê isto antes de procurares...

Factos inúteis

Naquela parede ali ao lado está um relógio que marca as 15:45 há aproximadamente um ano e um mês. Ainda não me habituei. Ora me assusto, ora me alegro. AQUELA MERDA NÃO FUNCIONA! Eu sei que não funciona...

quinta-feira, outubro 09, 2003

Os Cães do Senhor (Versão 2.01 Update 10.2003)

Há situações que não mudam desde o tempo em que o Homem (Sapiens Sapiens) decidiu que poderia cortar o cabelo da cara e deixar um pouco na cabeça para fazer experiências estéticas. O poder, meus amigos, o poder. Não é nova a ideia de mudar leis que regulam a vida de milhões para proveito de um. Acontecimentos recentes provam (de uma vez por todas) que esta coisa da democracia é um embuste gigantesco. Existe o caso do governo Bush (Junior) ser estupidamente conservador e não permitir experiências com células estaminais. Não, isso é o trabalho de Deus, não nos compete interferir nesse campo. Vamos proibir essas criações do demónio. Até que um dia a esposa de Reagan lhes envia uma singela carta em que fala do avançado estado de degradação do companheiro (Parkinson ou a outra parecida). Médicos haviam-lhe dito que a cura poderia estar no processo de investigação de células estaminais. Já se faz na Europa, terra de Satanás. E dizem que funciona. O jovem Bush reuniu a corte, falou com os senadores que têm empresas farmaceuticas e toca de mudar a lei. Para tentar salvar Reagan e o Projecto Guerra das Estrelas (o Atómico, não o filme). Depois há o caso de Dick Cheeney. Uma administração que tinha palavras duras contra a homossexualidade. Paneleiros e mexicanos, não. Até o dia em que a filha de Dick Cheeney (aquela que se ofereceu como escudo humano para o Iraque) disse publicamente ser lésbica... Nem mais uma palavra homofóbica saiu daquele burgo à beira-nuclear plantado.

Em Portugal as coisas são mais ou menos assim também. Não é de admirar. Grande chatice o Pedroso ter estado preso tanto tempo em preventiva. Está mal. Há que mudar a lei. E os milhares pessoas que lá estão na mesma situação mas são ciganos, negros, de leste, gagos, feios, mal vestidos, desdentados, desempregados, empregados da camara municipal com ordenados mínimos ou não podem pagar a um advogado que possa disfarçar as suas ressacas matinais? hã? E esses (milhares)? Ninguém se indigna? Pois não...

E o outro que queria mudar uma lei que se iria aplicar a 0.000001% da população para a filha entrar em Medicina? E o outro que mudou as leis da Sisa só porque não conseguiu um contrato postiço quando comprou a casa? Os Cães do Senhor estão mais vivos do que nunca. Não nos matam na fogueira mas provocam um desespero de morte.

O círculo Corleone

Concordou plenamento com o que disse este meu amigo. Faz-me lembrar este (grande blog o dele)...

quarta-feira, outubro 08, 2003

A causa de todas as coisas

... se fosse assim tudo tão fácil, Descartes teria sido talhante!

terça-feira, outubro 07, 2003

Uma longa espera

Uma longa espera
foto por Pedro (Creative Commons License) - 2003

Experimentalismo Pink-Pop

Dona Dorinda apanhou o Alberto a roubar limões do seu quintal. Ressacado e sem forças, Alberto foi agarrado pelo Agente Sousa que o acompanhou à esquadra. Em final de turno, tinha horas extraordinárias pela frente, enquanto em casa, Dona Célia esperava seu marido, Agente Sousa, para um jantar a quatro com o casal Martins, da tabacaria da praça. Fartos do atraso, o casal Martins entrou no restaurante e pediu ao Sr. Alves, dono do local, para cancelar a mesa. João e Ricardo, foram chamados à saída depois de terem perdido a esperança numa mesa. João, com 1.97m, ao se tentar sentar, empurra um saleiro que cai em frente a Eduardo, o empregado. Num esforço por agarrar o saleiro sem entornar uma taça de sopa Juliana, inclina-se para a frente e empurra Rita, a miúda nova da recepção. Rita tropeça e cai defrente a Rui, jogador de futebol retirado que foi impotente ao tentar segurar a miúda que não se aguentou nos saltos stilleto. Ao ver o pulso partido de Rita, Sílvia atrás do balcão faz uma chamada ao 112 que aparece em poucos minutos. Na viagem para o hospital, Duarte, o condutor da ambulância, chora copiosamente. Alvaro diz-lhe que esqueça, que ela não merece tanto. Ao se distrair com Alvaro, Duarte não consegue completar a curva em alta velocidade e atinge um autocarro estacionado na praça, repleto de turistas Suecos, que tinham vindo ao S.João. Em frente ao hotel Sebastião, o fogo rapidamente alastrou aos edifícios da Rua Dona Estefânia.

Mais tarde, no noticiário, populares indignados pediam responsabilidades. Queriam culpados. Pediam nomes. Escondido por detrás do anonimato, um agente Costa (nome falso), falava de má preparação das forças de protecção civil. Problemas demasiado graves para nomear.

No dia anterior, Dona Dorinda ter-se-ia esquecido de acertar o relógio pela hora que havia mudado. Teria acordado uma hora mais cedo da sesta, a tempo de apanhar Alberto. Era o assunto mais falado no bairro, logo a seguir à terrível tragédia no hotel Sebastião...

segunda-feira, outubro 06, 2003

Complexo de Guru

O excesso de confiança cria uma camada de abstracção que provoca uma separação mental/física muito perigosa. Uma vez infectada com este sindrome, as pessoas tendem a ser autómatos. Seja qual for a situação em que este sindrome ataca, a capacidade de assimilar novos conhecimentos dessa área desaparece. O complexo de Guru afecta vastas partes do cérebro responsáveis pela evolução temática (da área do excesso de confiança). Ora, quando isto acontece, inevitavelmente, há falhas. Por vezes graves, outras vezes meros avisos de "desce do altar, rapazola!...".
Tudo isto para dizer que acabei de ver ali fora (quando vinha para aqui) um BMW série 7 (dos novos) enfiado por uma árvore adentro. A árvore estava sentada no local do condutor. O condutor? Não o vi!...

"...deves ter cuidado contigo, porque agora o diabo está à solta"

Demoramos uma vida para te domesticar, para fazer de ti um animal social, mas se for preciso, podemos reverter o processo num micro-segundo. Garantimos que andes bem vestido, bem cheiroso, com um ninho acolhedor, sem lixo debaixo dessas unhas aparadas cirurgicamente. Garantimos que não tenhas que pensar em idiotices filosóficas e existenciais, para que produzas mais lixo para apaziguar outros como tu. Garantimos que tenhas sempre circo e pão. Dorme soldadinho, dorme. A seu tempo te chamaremos.

Beta-Lunar Cinemascope

Beta-Lunar Cinemascope
foto por Pedro (Creative Commons License) - 2003

sexta-feira, outubro 03, 2003

O fantástico povo galinha

- Então mas a nossa existência é só isto? - perguntava o novato ainda com restos de ovo na cabeça.
- Não, miúdo! Isto é apenas o início de algo maravilhoso.

... e entre os frangos, todos se empenhavam para serem notados. Para que um dia o ente superior os viesse buscar a eles. Os escolhesse. O povo galinha acreditava na eternidade. Todos os que iam e não voltavam iam para um lugar de felicidade eterna. Toneladas de milho e água fresca. O "além" do povo galinha...

quinta-feira, outubro 02, 2003

Uma frase aleatória que tirei da Internet
Patrocinado por "sinto-me com sorte" do Google


"(...)
Smells like fish, tastes like chicken!
A little bit of 20-something punk-porno-pop on the net!!!...
(...)"

Dar a cara pela revolução

Seguindo o modelo Deus/Cristo, todas as revoluções têm os seus mártires.

Um blog intimista

Hoje comi frango. Amanhã vou ao dentista.

Estou farto de humanos

Hoje já não posso ver mais nenhum à frente. Só se for na passadeira... Entalados entre o útero e a morte, fazem o que podem para combater o tédio. Deixam-me o cérebro liquefeito. Alguém devia explicar às pessoas que quando se dá apenas um espaço de 0,34 segundos entre perguntas, não fica espaço para respostas.

Conclusões do dia: um cão embalsamado é um bom ouvinte. Uma ovelha tetraplégica é uma excelente espectadora. O programa da manhã da TVI é um fantástico retardador de ejaculação. Um jogo de basebol é um excelente sonífero. O cérebro de uma galinha rebenta com um som de 7 HZ (não provado).

Peço desculpa pela falta de qualidade deste post mas... Mas, nada! Vão ler o Mexia ou o outro amigo amuado dele, porque hoje estou assim.

Paz light

Paz light
foto por Pedro (Creative Commons License) - 2003

quarta-feira, outubro 01, 2003

Um silêncio eterno

Ao fundo da escada, mesmo junto ao elevador que não funciona, vinha ela. Ele não a viu, mas podia ouvir ecoar pelas escadas o mórbido barulho do sistema de suspenção da muleta. Gasta. A muleta, não ela. Bem, ela também. Gasta. Aquele velho edifício (3 andares) com frias escadas de pedra polida pelas décadas de sapatos tinha uma acústica única. As lâmpadas há muito que não eram trocadas e, as poucas que ainda existiam, teimavam em pintar de amarelo tudo o que iluminavam. E não é aquele amarelo alegre. Não, nada disso. Amarelo fúnebre. Tão funebre como todo o edifício. Quem vinha ali pela primeira vez podia sentir o toque das sombras. Como elas lhe lambiam os corpos em danças invisíveis. Mortuárias.

O eco da muleta aproximava-se. Agora ele podia também ouvir os tacões dos sapatos ortopédicos. A sua vontade era esfaquea-la assim que ela entrasse por aquela porta. Adoraria sentir o sangue quente a escorrer-lhe para os braços. Nunca iria lavar aquela roupa manchada do sangue do seu extâse. Sabia exactamente como ela iria reagir a isso. Sabia qual seria a sua expressão facial, a cara surpresa, como seriam os seus gritos... Sabia tudo, pois essa imagem já corria pelos seus pensamentos há muito. Era informação que estava aglomerada já ao seu instinto de sobrevivência. Como reagir num tremor de terra, como fazer em caso de incêndio, como a matar... Sorriu!

A campaínha toca. "Ela tem as chaves, porque é que faz sempre isto". Respirou fundo. Antes de ir à porta, passou pela janela e olhou a rua que ali em baixo descansava. Velha e suja. A rua, não ela. Bem, ela talvez um pouco. Respirou novamente fundo, tão fundo quanto podia. Antes de abrir a porta fecha os olhos, constrói o sorriso. Abre a porta. Beija-a nos lábios. Ela entra. Ficam em silêncio. Horas de silêncio. O silêncio da cumplicidade. Décadas de cumplicidade. Décadas de silêncio.

Hiper-Consciência (a criança que olhava para além do Homem)

Apocalipse
foto por Pedro (Creative Commons License) - 2003